Há vozes na minha cabeça
De gente que já se foi
De gente que insiste
Em continuar a dizer
Palavras suas
Como se minhas fossem
Eu sou mero canal
De águas barrentas
Onde passam barcos de junco
De gente que eu nunca vi
Eu sou um mau poeta
Não pela falta de rima ou de métrica
Mas pela falta de verdade
Eu sou, antes de tudo,
Uma ausência de mim mesmo
Sou um hiato
Queria te dizer
(Antes que eu te veja alguma vez)
Que eu nunca te amei.
Eu só amo essa ausência.
A inexistência
Minha lama é algo que não lhe pertence
Minha alma é mentira
Essas palavras são mentira
Minha carta de amor é mentira.
Me tire da alma dois braços
Não sentirei nada
Braços servem para sacudir pessoas
(E eu..) Eu apenas imploro para ser sacudido
Que uma mão me dê um tapa
E que eu tenha vergonha de mim
Que as bestas do meu jardim
Destrocem e des-sejam a mentira
Da minha alma
Eu te amo como mentira
E tudo mais é verdade inaudita
Meus pêsames e minhas condolências
Meus beijos falsos e meus olhares perdidos
Minha mentira, minha farsa, minha tragédia grega
São meros casos de orgulho ferido
Eu te amo como mentira.
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