segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Declaração de amor a uma mulher que um dia eu nunca vi

Há vozes na minha cabeça
De gente que já se foi
De gente que insiste
Em continuar a dizer
Palavras suas
Como se minhas fossem

Eu sou mero canal
De águas barrentas
Onde passam barcos de junco
De gente que eu nunca vi

Eu sou um mau poeta
Não pela falta de rima ou de métrica
Mas pela falta de verdade

Eu sou, antes de tudo,
Uma ausência de mim mesmo
Sou um hiato

Queria te dizer
(Antes que eu te veja alguma vez)
Que eu nunca te amei.

Eu só amo essa ausência.
A inexistência
Minha lama é algo que não lhe pertence

Minha alma é mentira
Essas palavras são mentira
Minha carta de amor é mentira.

Me tire da alma dois braços
Não sentirei nada
Braços servem para sacudir pessoas
(E eu..) Eu apenas imploro para ser sacudido

Que uma mão me dê um tapa
E que eu tenha vergonha de mim
Que as bestas do meu jardim
Destrocem e des-sejam a mentira
Da minha alma

Eu te amo como mentira
E tudo mais é verdade inaudita
Meus pêsames e minhas condolências
Meus beijos falsos e meus olhares perdidos
Minha mentira, minha farsa, minha tragédia grega
São meros casos de orgulho ferido

Eu te amo como mentira.

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